terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MEDIDA POR MEDIDA

Está em cartaz no CCBB a comédia de Shakespeare "Medida por medida", inédita até então nos palcos cariocas. A tradução de Barbara Heliodora é moderna e ágil, mas não poderia ser diferente, sendo ela uma estudiosa dos textos do grande mestre do teatro inglês. É bem verdade que a peça está com alguns cortes, o que pode resultar em uma dificuldade inicial da gente entrar na história, e entendê-la. Mas, sem sombra de duvidas, Shakespeare consegue pegar a atenção da platéia por sua ironia, seu sarcasmo, em um texto que até hoje é atual (como a maioria das suas peças), falando sobre corrupção, chantagem, mandos e desmandos de subalternos. Ou seja, discutindo a ética.

E posso me dar ao direito de dizer que a ética deve ser discutida em todas as instâncias da sociedade em que vivemos, ou em que se vive. Seja ela uma favela, um high-socite ou até mesmo nos clubes de "bass found" do mundico gay. E é aí que a direção pegou o fio da meada da historia. Fez de Shakespeare um "Priscila, a rainha do deserto". Colocou a ética numa ótica chocante para os amantes do bom e tradicional teatro. A essa direção, Gilberto Gawronsky conduziu muito bem. A gente nao se perde em nenhum momento na historia (depois q ela pega, claro). Cada parte do cenário, do figurino, e da luz, e por que nao dizer, da movimentação dos atores, está de tal forma enlaçada que fica fácil perceber onde o autor quer chegar com aquilo e como a direção conduziu a historia.

O figurino é a melhor coisa do espetáculo. É impressonante a capacidade da dupla Antônio Medeiros e Cao Aluquerque de transformar a roupa utilizada no sécio XVI (1564) , de desconstruir uma época ao mesmo tempo em que apresenta claras referências à época. Além de ser um figurino engraçadíssimo, porém sempre voltado para o mundo do sexo hardcore para os homens, com utilização de couro, plástico, fivelas, e tiras, muitas tiras de tecidos. Gosto também dos adereços de cabeça e da maquiagem, mas, reparem, tudo é muito drag queen pra o medieval.

O Cenário de Maria Sarmento e Beanka Mariz nao ambienta os lugares, mas consegue ser neutro o suficiente para que o diretor possa brincar com os espaços, e com a historia. A unica coisa desnecessária é a abertura da peça, com aquele pano branco escondendo o cenário e a projeção de uma suposição de Shakespeare escrevendo a peça que iríamos ver. Nao vejo necessidade dos numeros de tecido. So atrapalha os atores em cena.

A luz do Paulo Cesar Medeiros deixa as vezes os atores um pouco no escuro, principalmente nas cenas de proscênio, mas no todo, é bonita, porém sem criatividade. O laser nao tem nada a ver com a peça.

Aos atores, todos homens, os que representam as mulheres (Sergio Maciel e Rafael Leal, e participação de Rodolfo Botino) se saem bem melhor do que os que representam os homens. Embora todos se comportando como Drag Queens. De longe as interpretações de Nildo Parente, Ricardo Blat e Tatsu Carvalho sao as melhores. Luis Salém é Luis Salém, nem duque, nem frei. Já Alcemar Vieira se sai bastante convincente como Pompeu, mas Gustavo Wabner ainda precisa melhorar um pouco para crermos em sua interpretação. De todos, o que eu menos gosto, em cena, é Celso André, que exagera no homossexualismo do personagem, embora nem saiba eu ao certo se isto pede o texto ou se é invenção do diretor. Mas, abusa. Fica feio e caricato. Mas ele traz graça ao papel, e por fim, diverte.

A direção do Gilberto Gawronski é toda voltada para o lado Sado-masoquista do universo Priscila. Até os objetos solicitados pelo diretor lembram objetos de sexo hard-core. Nada contra. Cada um que conte sua história à sua maneira. Eu, porém, fiquei chocado! É um clássico ou é apenas mais uma história a ser contada? Ta bom, a direção, ao que se propõe, é boa.

Quando o publico ri de quedas do elenco no palco, ou do texto dito erradamente por um dos atores, é porque a coisa tá preta. Nao estao prestando atenção na historia ou estao doidos pra rir da primeira bobagem que alguem fale ao pé do ouvido. Parece que a peça assusta mais do que faz rir. Tudo bem. Pelo menos mexe com esse povo que so vai ao teatro pra ver comédias de facil entendimento, que ri quando fala-se "bunda" no palco! Viva o incômodo!!

Vá ver, e tire suas proprias conclusoes...

Nenhum comentário: