quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

OS MAIAS, NO TRINDADE

Já qu'estou em Lisboa, fui ver Os Maias, no Teatro da Trindade. Os teatros de LX merecem uma postagem à parte, e farei, com certeza, pois todos são "de época" e dão um show à parte no conceito de belos espaços cênicos para se trabalhar e se assistir a qualquer espetáculo de teatro, ou de qualquer outro evento que se possa entreter ao publico.

O "engraçado" de se ver a'Os Maias é que em uma parte do livro, os personagens principais se encontram, ou se vêem, num dia de festa no proprio Teatro da Trindade. E o mais gostos é ouvir a historia de Eça de Queiróz falar sobre os bairros que circundam o teatro, coo o Chiado, Rua das Janelas verdes, Bairro Alto, Alfama... e tudo aqui, aos meus olhos. Isso sim foi emocionante.

Ta bom, a peça.

É chato, o espetaculo, no inicio, melhora quando entra pra valer na historia dos Maias e fica bem no fim quando a historia é muito bem contada. O autor, António Torrado, tentou ser engraçadinho e acrescentou momentos divertidos ao espetaculo, o que é bom, pois mantém o publico atento. Conheço gente que dormiu, mas como eu tinha q prestar atençao aos minimos detalhes, e ainda decifrar algum sotaque, fiquei cos zoio bem abertos. Mas o espetáculo consegue ser fiel à história e a platéia se envolve com o que está sendo apresentado.

A direção da peça, de Rui Mendes, é obvia, com marcas bem primárias e nada criativas. As vezes um entra-e-sai desnecessário. As vezes atores muitas vezes entram para falar apenas uma frase e saem sem quê nem porquê! Mas tudo melhora na segunda parte do espetáculo quando o cenário passa a "ajudar" a contar a historia como tem q ser. Os atores estao bem dirigidos, nao erram falas e dão aos personagens o tom aceitavel para as falas. Tudo muito simples e bem feito.

Os atores estao muito bem. Nao posso deixar de citar José Fidalgo, excelente como Carlos da Maia e José Airosa como João da Ega, que roubam o espetáculo. Gosto ainda de um outro ator, que nao consigo identificar pelo programa, que se faz passar por um homem um pouco afeminado, e que este "quase afeminado" arranca boas risadas do publico. Os demais atores dão conta do recado. Todos estao bem.

O figurino e o cenário de Ana Paula Rocha estao bem bonitos. Destaque mais para o figurino do que para o cenário. Mas, como acredito que tenha sido a pedido da direção, Ana Paula fez bonito e atendeu direitinho às necessidades do diretor. Mas, como eu gosto de cenários que giram, rodam, se transforma, sobem e descem, o cenário da peça poderia ter sido mais bem explorado nesses sentidos. O figurino estao lindos. A luz de Carlos Gonçaves é LINDA! Com exploração de sombras, contra-luzes, e silhouetas de tirar o fôlego.

Ah, a direção musical, do também ator, Afonso Malão é deliciosa, pois ele toca um belissimo piano de 1/4 de cauda em cena aberta durante varias cenas da peça.

Assistir a teatro em Lisboa é uma diversao peculiar. Principalmente por ver a platéia toda cheia dos seus casacos de pele, seus visons, suas estolas, seus brincos de ouro, e seus maridos de casaca, so faltando as cartolas. Alguns maridos de manga de camisa e tênis! Anos 2000, há que se relevar. Foram otimos momentos de lazer e, pena, nao deu pra assistir a mais peças.

Voltando a casa brasileira, com certeza, prometo escrever mais e mais sobre peças de teatro que assito. Até a volta.

Como diz um amigo querido, abraços pra quem é de abraços, e beijos, pra quem é de beijos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Bastidores de West Side Story na Renascença

Uma pequena parte do que ja escrevi abaixo, para voces se divertirem!

West Side Story - Lisboa

Está em cartaz, em Lisboa, (não é fraco não!) o musical West Side Story, que se passa num suburbio de Nova York e conta a historia de um amor "impossivel" entre uma porto riquenha e um americano. Todos de classe baixa, pois moram em um conjunto habitacional onde as rixas entre as "turmas" é frequente. Os americanos detestam os cucaratchos, pois estes aparecem para "roubar" postos de trabalhos deles, americanos. Engraçado como a vida imita a arte. Aqui em Lisboa, os portugueses pensam o mesmo sobre os Brasileiros. Brazucas, como chamam depreciosamente. E assim o musical é tao importante de ser montado e visto por aqui, pra ver se os portugueses abrem a cabeça um pouco e entendem que o mundo agora é globalizado. Mas, discurso politico à parte, o musical é antiiiiiiiiigo, parece mais um High School Musical. Igualzinho. Ah, claro, tem um "quê" de trágico, pois quase nao sobre protagonista vivo ao fim da peça!!!!

A produção é grandiosa. Cenários que saem do chão, vêm de cima, gira... como diria Ibrahim Sued... Chôse de Loc! Coisa de Louco! Mas... nao tem cenário vindo das cochias laterais pois estas sao pequenas. Tudo bem, o Teatro Politeama é bonito pacas!! Palcão (palco grande é feio de escrevre), platéia, balcão e torrinha (como dizia minha avó). Cadeiras confortáveis. Um lustre rosa! Vou postar fotos. Enfim, o musical é super bem produzido. Mesmo. 30 pessoas em cena, entre bailarinos e atores.

Começando pelas coreografias, eu diria que sao a contento. sem grandes firulas, dando o recado. Correto, porém sem grandes emoções. Até pq junta-se no mesmo saco atores e bailarinos e uns, claro, se sobressaem mais que os outros nas coreografias. No geral, sao danças para compor um numero musical. Nada que possa ser considerado 'um achado'.

A luz da peça é linda! também, pudera, estamos na porta da Europa. Varios mooving lights, refletores a dar com pau e, sempre, muito bem iluminado. A luz é linda.

O cenário, um parágrafo à parte, é lindo. Aplaudidissimo ao abrir as cortinas. Uma grande ponta Golden Gate ao fundo com carrinhos de controle remoto passando por ela, como se fosse real. Fiquei de queixo caído!!! Compondo, uma cidadezinha com lampadinhas de led e, muito legal, um espelho simulando a água do rio. Ao lado, duas construções de tijolinho, que andam, tipo uma porta com dobradiça, para esconder o fundo do palco. Pchega a cena da casa da mocinha, ena q nao dá pra fotografar... Mas, tem sempre um mas... chega a cena da casa da mocinha, em cima da loja de tecidos... é brega. Cores bregas, mas... funciona!! O cenário vem do chão e eu fiquei louco!!! Muito bom o cenario mesmo. Lindo. Funciona! tem a ver com a época. Otimo.

Já o figurino, bem, nao estao muito bons nao. Sao feios. Muito cetim, napa... céus, parecem comprados no SAARA!! Mas, tem a ver com a época! Pelo menos o desenho do figurino é bom. O ruim é a escolha dos materiais. Estao bem feitos, claro, mas sao feios. Pobres.

Ja o elenco, 100% portugues, no conjunto rende bem. Muito bem marcado, texto na ponta da lingua, vivem os personagens. Sao otimos. Pra Portugal, compreendes? Os atores principais nao são lá um exemplo de beleza, mas pra terra de cego, quem tem olho é rei! Cantam muito bem, mas se fossem brasileiros... ah, meu Deus... Quero ver Claudio Botelho e Charles Moller fazendo isso, vai ser um show! Destaque para os protagonistas portoriquenos, a atriz (cantapaca!) e o ator cucaratchos. Boa, muito boa, uma mocinha que faz o papel de uma menina que quer brincar com os meninos... tá, meu bem? No todo, os atores estao dando conta do recado.

E todo o mérito do espetáculo é do Felipe La Feria, um fera nos palcos portugueses, com espetaculos de excelente qualidade, para estrangeiros e moradores verem e se orgulharem do talento e a competencia com que se dispõem a fazer seus trabalhos.

Achei tudo muito brega. Nao sei se é a historia ou o 'que', mas achei brega. Frio, nao emociona mas dá o recado. Foram aplaudidos de pé (eu puxei a levantada da platéia) pelo esforço em apresentar tal trabalho com excelente nivel de qualidade. Brega sim, mas bem feito.

Vens a Lisboa? Se sim, tire suas conclusoes e assista ao espetaculo!
Esta semana vou ver outra peça.
Oremos!!
Té já

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Marya Bravo - While My Guitar Gently Weeps

IMPERDIVEL!!!

BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES

Pra mim, peça de teatro tem q ter texto. Usar a música para dar o recado, só vi funcionar na peça Soppa da Letras. Em Soppa, uma musica ligava na outra e aí... o recado era dado. Ainda mais porque se variava nao só de tema, como de autor, de ritmo. Naquela peça, o Pedro Paulo Rangel não cantava. E a peça tinha um "texto". Mas nao é dela que vou falar e sim do Beatles. Nesta, os atores cantam. Só Beatles. Então nao é uma peça. É um Show com canções dos Beatles. E é maravilhoso!!! Um dos melhores shows em teatro que eu já vi.

Mas digo, a peça, ou melhor, o show, tem historia. Uma menina vem de longe, conhece uma cidade nova, pessoas novas, meninos... se apaixona, vive o amor, sofre, se ilude, se separa, chora e volta pra casa. Amadurecida.

Esta peça foi produzida rapidamente para suprir um furo de pauta no Sesc Copcabana. E veio bem vindo.

Os cantores/atores sao da melhor safra dos musicais brasileiros. Eu destaco a belissma voz da Gotcha e da Marya Bravo, as minhas cantoras favoritas de musicais. Entre os homens, me emociono todas as vezes que o Cristiano Gualda começa os primeiros acordes. Alias os Cristianos dao um show nesse show. O Penna, por exemplo, arrebente a boca do balao com seu carisma imitando um boneco. Esse tem muito futuro.

A seleção musical é das melhores. A direção da dupla Charles e Claudio é sempre muito criativa, nao deixando as musicas cairem na mesmice ja apresentada por milhares de cantores pelo mundo à fora.

O cenário e o figurino (figurinos novos!!!) ficaram bem mais belos no palco do Teatro do Leblon, assim como a maravilhosa luz de Paulo Cesar Medeiros.

Realmente, é um dos melhores espetaculos em cartaz atualmente e eu recomendo a todos aqueles que gostam e que nao gostam dos Beatles para se emocionarem com esta belissima homenagem.

Ja volto!

OPERETA CARIOCA

É muito interessante a forma de se contar uma história bastante real, em qualquer lugar do Rio de Janeiro, sobre o relacionamento entre um malandro e uma mulata. O encanto inicial, a côrte, o chegar junto, o namoro, casamento e o ciume. As brigas, as cobranças, as ameaças e a separação. Por fim, o re-encontro e o final feliz. Pronto. Está dito o que é a peça. O melhor de tudo é contar isso com as músicas, sambas, partidos altos, pagodes e tudo q seja possivel de ser tocado em uma roda de samba. A seleção musical não podia ter sido mais atual e bem escolhida. Sambas que nossos avós e nossos filhos cantavam, e agora cantam, são muito bem executados pelos cinco músicos que acompanham os atores cantores. Diga-se de passagem, um ecelente grupo de músicos. A peça-musical lembrou-me muito "Sassaricando" e "Beatles num céu de diamantes". Todas sem texto, mas as músicas falam por si só.

Soraya Ravenle e Gustavo Gasparani têm um casamento tão feliz no palco que a platéia fica babando pela qualidade vocal e corporal da dupla. Soraya canta que é uma beleza!! É um prazer vê-la se divertindo, e divertindo a platéia, com a facilidade com que canta. Gustavo, responsável pelo projeto, sabe o que está dizendo, e interpreta as canções nos fazendo crer que o texto apenas foi musicado, quando na verdade, a música é que foi textualizada. Eu não gosto do número de platéia.

O figurino está meio óbvio, vermelho para o malandro, brocados para a mulata. Mas tudo é tão bem confeccionado, tecidos leves que permitem aos atores se expressar sem se preocuparem com o figurino, que a obviedade citada acima não incomoda em nada. A luz é muito bonita. Preenche o espaço, ilumina, dá vida, dá clima, dá ambiente e marca claramente as passagens de humor entre os personagens. O cenário é bom. Não gosto dos baldes com luzes dentro, assim como os raladores em escada. A idéia é boa, mas, não sei, não é bonito visualmente.Mas nem tem que ser, porém precisava ser mais bem explorado. Porém a laje, com caixa dágua, e a aparição da cama de casal, são a alegria do cenário. Acho q bastava a laje, a cama e um belo céu estrelado (que existe, mas é tão feio...) porém, nada atrapalha o bom andamento da peça. A luz dentro dos baldes funciona, mas precisa aprimorar essa idéia.

Deixei por fim a direção do João Fonseca. Geinal. O espetáculo é a direção do João e as vozes de Soraya e Gustavo. Com maestria e competência, João Fonseca traduz em marcas bonitas e criativas as passagens de humor dos personagens e conta a história deste amor de uma maneira simpática e inteligente. Tem uma canção em que a cena se alterna entre os cantores e os músicos, o que pra mim é uma das melhores já vistas em musicais. Parabéns.

O único problema da peça, e aí ninguém tem culpa, é o Teatro Veneza. Um local frio, com poltronas gigantes, que afasta o público do palco, apesar de ficarmos bem perto. Mas não é um lugar para teatro. Só para shows. Embora este musical seja mais show que teatro, ainda sim, o espaço não é aconchegante. O que fazer? pintar tudo de preto, ou marrom, ou alguma cor escura para que todas as atenções sigam para o palco. Maiores reclamações no blog de dona Herina Cervica, uma velha amiga minha...

Vá ver. Sempre é válido.

Já já tem mais.

TRAIÇÃO

Qdo escrevi a opinião abaixo, Pinter ainda era vivo. Triste noticia.

A boa, é que Leonardo Franco, Ary Coslov e Marcos Flaksman foram indicados para o prêmio Shwll de teatro por este trabalho.

Não é de hoje que as peças inglesas tem suas montagens muito bem cuidadas nos palcos do Rio. E essa nao é diferente. Uma linda montagem de Harold Pinter, um super-autor que ja ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, precisa dizer mais? Sim. Pinter escreve aquilo que a gente vê na rua. Em uma entrevista dele, disse que presenciou uma conversa entre duas mulheres no metrô e... bingo, lá estava um texto de teatro. É assim que a banda toca. Vendo e observando o que a vida nos diz, nos ilustra, e Pinter faz com maestria. Seu texto é leve, rápido, inteligente, crível e instigante. A gente nao para de pensar em "como é que isso vai acabar", e fica imaginando o fim da historia e os rumos que aquelas vidas podem dar. O que eu mais gosto nesse texto é que ele é contado de trás prá frente. Calma, nao estraguei nada. Desde o início a gente sabe. Além de estar no programa, no palco já se vê a passagem de tempo, pra trás. Existem na história várias traições. Cada uma ao seu tempo. A traição do amigo, da esposa, do amante, da amante, do marido, e até mesmo a traição do tempo.

A direção do Ary Coslov é impecável. De uma qualidade, uma elegância, uma calma, uma dedicação que poucas vezes vemos no palco. As cenas montadas estao sempre sendo bem tratadas, as posições dos atores no palco, a entonação de cada frase, o comportamento e as reações de cada personagem sao tratadas de maneira elegante e simples ao mesmo tempo. Sem duvida nenhuma uma direção responsável por toda a elegancia, e a parte técnica excepcionalmente correta de todo o espetáculo. Vai ganhar premio, anota ai.

A cenografia, do Marcos Flaksman é linda. Tudo sai de um super armário ao fundo, onde cada peça, lindamente escolhida, espera o seu momento de entrar em cena. Tudo isso muito bem arrumado, sem pressa, com elegância, por um contra-regra ator, que, ao subir as escadas para mudar o tempo, dá uma pausa de respeito ao proprio tempo e limita passado e presente. Gosto quando o cenário é montado aos olhos do publico. Nós já começamos a perceber que aquela cama é de tal ambiente, o sofá do outro, a mesa daquele. Isso traz a platéia pra dentro do palco. Ficamos íntimos ao espetáculo. Logico que tem dedo do Ary nessa historia. Ponto para os meninos!

O figurino é elegantissimo! Supercorreto quando se trata de verão, inverno, clima ameno, época, qualidade dos materiais escolhidos, leveza e cores. Muito bom gosto. A luz do Aurélio de Simoni, como sempre valoriza os espaços, valoriza o trabalho dos atores, valoriza a direção e valoriza o figurino. Com isso ela, a luz, ao mesmo tempo que valoriza as outras qualidades da peça, se valoriza por estar presente, iluminando sem ofuscar. Linda luz.

Vale destacar também a trilha sonora composta de cançoes dos anos 70, época da peça, pautadas em Erik Clapton e Rolling Stones, mais inglês impossivel.

É na interpretação dos atores que a direção tem a sua maior aliada. Todos, sem excessao, estao muito bem. Em ordem crescente de qualidade, Isabella Parkinson é a que, algumas vezes, se perde um pouco, ou perde um pouco das entonações corretas das frases e palavras, mas sua atuação no todo garante seu talento de boa atriz. Isio Ghelman é a personificação do personagem Jerry. Consegue entrar de tal forma no personagem que a gente nao sabe se ele é Isio ou se Isio é ele. Compreendemos tudo o que ele faz no palco. As suas atitudes estao sempre de acordo com cada cena. Um belo trabalho. Mas é Leonardo Franco quem rouba a cena. É sem duvida nenhuma uma peça divisora de águas na vida deste grande ator. Sempre fui fã do Leonardo, mas agora, depois de tê-lo aplaudido de pé, tenho certeza que seu talento irá ser reconhecido nos 4 cantos deste Brasil varonil. Um trabalho para prêmio. Uma indicação já será um reconhecimento, mas o prêmio é mais que justo. Sua qualidade de interpretação em cena é tão correta, tão elegante, que ficamos sem saber se o diretor teve trabalho para domar Leonardo ou se Leonardo botou o diretor no bolso e toda a peça saiu atrás de seu talento para ser encenada. Parabéns ao elenco.

Um espetáculo elegante, bonito, correto, lindo e que nos faz pensar (afinal a função do teatro é essa...) sobre as traições nossas de cada dia. Imperdível, nota 10.

Até a proxima.

TRAIÇÃO - Solar de Botafogo, de quinta a sábado 21h30 e domingo às 20h30