domingo, 17 de maio de 2009

CONFRONTO - espetáculo obrigatório

Desde que conheci Lisboa, nao consigo parar de comparar a cidade com o Rio de Janeiro. É impossivel achar que são cidades independentes. As vezes ando no Rio e me vejo em Lisboa. E desde que voltei de Portugal nao consegui fazer as pazes com o Rio, e nem com o Brasil. Nao tem praia de Ipanema, Corcovado nem vitória do Flamengo que me faça voltar a ter o amor que eu sentia pelo Rio antes de conhecer o tal "lá fora".

E hoje, apos a peça "Confronto", pude notar que meu amor pelo Rio jamais será o mesmo.

Depois q assisti ao filme Tropa de Elite, no cinema, nada de pirataria, entedi que por cá somos todos reféns dos comandos coloridos que dominam as favelas. E hoje, na peça "Confronto", escrita brilhantemente por Domingos de Oliveira e pelo Luiz Eduardo, mesmo autor do livro que deu origem à peça, "A Elite da Tropa", pude voltar a ter, por alguns minutos, a esperança de um dia voltar a amar o Rio de Janeiro.

A peça, em forma de documentário, começa com uma suposição interessante: apesar de toda fábula ser uma história inventada, ela tem por base um fato real. Logo... todas as fábulas podem ser, ter, um fundo de realidade. E assim a peça nos mostra uma série de confrontos. De classes sociais, de policiais, de alto escalao de um governo do estado, no caso do Rio de Janeiro, e o confroto do "nao tem jeito" com a esperança.

Ninguem vence. Por enquanto. E quem nos garente que alguém vá vencer um dia? Daí... onde foi parar meu amor pelo Rio? Parou fora daqui.

O texto e a direção de Domingos de Oliveira, nos mostra que é possivel trazer para o teatro uma parte do livro, que, com a ajuda do mesmo autor, tem uma dinâmica entre altos e baixos de nervosismo e humor, sempre um lado apoiando o outro antes que o publico se canse de sofrer ou rir. A direção da peça é ágil, dinamica e utilizando os recurosos que o diretor em tem mãos: atores de talento inegável, luz, figurino e o minimo possivel de cenografia. Tudo bem costurado, armado, conduzido e, enfim, com clareza para criar um espetáculo onde se vai falar, novamente, tudo que já foi dito sobre a violencia urbana do Rio de Janeiro.

A Cenografia de Ronald Teixeira começa com um belissimo piso plotado, onde se interpreta um mar de lama, um rodamoinho de sangue ou ainda um ralo pra onde se vai toda a baixaria possivel. Compondo, cadeiras, mesas e bancos pretos. Apenas dois adereços para situar uma casa de suburbio, com flores de plástico, e uma casa de rico, o tabuleiro de xadrez. O figurino também é dele e veste todos os atores com competência. Destaque para o sapato branco do chefe da policia civil e o esvoaçante vestido da mulher do traficante e cantora de boite de streep tease.

A luz do Russinho é ótima!!! Com a supervisao de Maneco Quinderá, Russinho cria ambientes, separa cenas, usa a luz como grade de cadeia, enfim, ilumina a peça com competencia.

A trilha sonora é adequada, mas senti falta de um funk na favela e de novas e, quem sabe, emocionantes regravações para Cidade Maravilhosa. Carmen Miranda cantando o hino da cidade ficou fora do contexto. Ah, sim, e uma ária de ópera durante um desabafo de um preso também passou longe de ser verdadeiro. Não mais sobre trilha sonora, mas sobre sonoplastia, muitas vezes perdemos o que nos é narrado pela voz de Domingos de Oliveira, cuja dicção é falha quando está nos offs.

O elenco é de todo muito bom. Destaque para Paulo Giardini como o governador do estado, Camilo Bevilacqua, como o chefe da policia civil e Michel Bercovitch como o secretário de segurança publica. Ainda no elenco, Delson Antunes, como um PM vingativo, Alexandre Mofati como o contador da facção criminosa rival e Fernando Gomes como um dos integrantes da inteligència da policia estão bem escalados e atuando bem. As mulheres do elenco dão conta do recado muito bem, assim como os demais componentes da peça.

Ao final, fomos brindados cum um belissimo depoimento de Augusto Boal sobre a esperança nossa de cada dia e, como publico pagante, apesar dessa historia eu ja saber de cor e salteado, saí do teatro com infinitos pensamentos sobre como posso melhorar minha cidade para voltar a amá-la como a amava antes de "ir lá fora".

Como sempre digo, esta é minha opiniao e graças a Deus a internet está aqui pra isso, para que cada um diga o que pensa e arque com as consequencias das suas opiniões. Eu arco com as minhas. E assim como quem produz se expoe, aqui me exponho. "Nao quero causar impacto, em tempoc sensaçao", Lulu Santos ja disse. Mas quero poder dizer livremente aquilo q penso sobre as peças de teatro que assisto.

"Confronto" é um espetáculo de teatro com o que há de melhor para um publico que já é cativo nas platéias e um publico que se está chegando agora. Vá sim ver a peça, tire suas conclusoes e, principalmente, acredite que é possivel o Rio de Janeiro voltar a ser amado.

Abraços a todos.

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