quarta-feira, 10 de junho de 2009

ESTRANHO CASAL




Quem na vida nunca teve q abrigar um amigo necessitado? Nem q fosse por uma noite? E se essa noite virasse semana, um mês, um ano? Loucura total seria? Pois quando estive em Lisboa, hospedado na casa do meu amigo-irmão, a primeira coisa q fiz quando cheguei na casa dele foi trocar os móveis da sala de lugar e arrumar todos os seus sapatos num lugar distante do quarto dele. Claro que quando ele chegou tomou um susto! Queria os sapatos mais perto dele! Já os móveis... bem, ficaram como eu deixei. Durante o mês em que lá estive, fiz o possivel pra não incomodá-lo. Lavei louça, fiz almoço e jantar, lavamos roupa... ei... pera ai! Isso parece tema da peça "Estranho Casal"!

Pois está em cartaz no Teatro do Leblon, a comédia Estranho Casal, de Neil Simon. A peça é mais ou menos o que relato acima, apenas difere da minha história pelo fato de que os dois homens estão separados de suas mulheres e precisam morar juntos. Um toma pra si as tarefas domésticas enquanto o outro toma pra si a tarefa de desarrumar tudo. Na verdade, o bagunceiro está adorando isso tudo. E o arrumadinho também. Porém quando o assunto é mulher na jogada, literalmente, pois eles adoram um jogo de pôker, a coisa muda de figura. E é aí que as frustrações, cobranças, diferenças de comportamentos, começam a aflorar e as brigas de casal se tornam uma constante.

Toda a equipe técnica é escolhida a dedo. Cenários de José Dias, figurino de Ney Madeira, luz de Paulo Cesar Medeiros e trilha sonora de Billy Forghieri. E, logicamente, o resultado nao poderia ser outro. Tudo funciona. Tudo é muito bem escolhido, pensado e executado.

A tradução da peça é do autor de novelas Gilberto Braga, que segue à risca a necessidade de velocidade do texto e consegue utilizar palavras que nos é muito familiar, e, com isso, nos faz ficar cada vez mais perto daquela história, como se estivéssemos inseridos naquele apartamento.

A direção de Celso Nunes, que como bem disse um dos meus amigos que foram comigo à peça, é um primor: "ainda bem que existe um diretor que sabe dirigir comédia". Ele foi além: "é tão bem dirigido que todos os atores estão fazendo a mesma peça". É isso mesmo. Às vezes vamos ao teatro e cada ator está fazendo um espetáculo, um tempo diferente dos demais, cada um na sua. Aqui não. É tudo sincronizado. Todos estão se entregando aos seus papéis e não se preocupando em aparecer mais que o outro. A direção vai ganhar o prêmio Shell de teatro. Anote aí.

Tudo isso não teria acontecido se Edson Fieschi e Carmo Dalla Veccia, os protagonista, nao tivessem lido a peça, visto o filme e reunído um elenco engraçadissimo de homens (Leonardo Netto, Marcelo Varzea, Marcos Ácher e Rogério Freitas) e um elenco hilariante e brilhante de mulheres (Bel Garcia e Susana Ribeiro) que roubam a peça como duas gaúchas gostosonas. Edson e Carmo, como os amigos que dividem apartamento, estão excepcionalmente bem em seus papéis. Totalmente à vontade como se a peça fosse escrita para eles.

Um espetáculo para vários prêmios de teatro. Totalmente profissional que não deixa a menor duvida na platéia de que o ingresso pago vai ser devolvido em gragalhadas inesquecíveis.

Este é imperdível. Uma aula de teatro.

Um comentário:

Denison disse...

Tenho certeza que vc deixou saudades em Lisboa! Adorei a crítica! Na verdade, adoro o que vc escreve!