segunda-feira, 8 de junho de 2009

QUANDO AS MÁQUINAS PARAM

Está em cartaz na sala Rogério Cardoso, na Casa de Cultura Laura Alvim, a peça "Quando as máquinas param", de Plinio Marcos, escrita em 1967. Mas parece q foi escrita em dezembro de 2008, quando a crise economica mundial, atual desculpa para demissoes, diminuição de verbas, aumento dos lucros dos empresários, passou a ser manchete dos jornais do mundo todo. O drama vivido pelo casal pode perfeitamente estar inserido em qualquer classe social hoje de qualquer país do mundo. Seja em Portugal, ou no Rio de Janeiro, ter um cobrador batendo à porta, ou um telefonema dizendo q sua conta de celular nao foi paga, não é mais motivo de vergonha pra ninguém. A industria da cobrança veio justamente nos mostrar que todos, absolutamente todos nós, estamos consumindo mais, as crises estao cada vez mais presentes e, por incrivel que pareça, as dividas de todos nós só faz aumentar.

Comigo nao é diferente. Me identifiquei com os cobradores, com a falta de um salário fixo (ok, sou produtor, e as vezes os trabalhos somem, as vezes são tantos q nem dá pra dar conta) e com o pagar fiado pra poder continuar vivendo, ou sobrevivendo.

O texto é atualissimo. Mesmo nas discussoes entre mulher e homem, sobre a vergonha do palavrao e do que o vizinho vai achar, está tudo muito atual. Até o marido descontar suas frustrações em cima da mulher, também é atual. Nao é à toa que o numero de mulheres que fazem denuncias para a delegacia de mulheres contra agressoes sofridas pelos seus companheiros só aumenta.

Sobre a peça, a dupla de atores está muito bem em seus papéis. A atriz Ana Berttinez está tão envolvida no personagem que chega a chorar de verdade ao fim da peça. É uma otima atriz que domina totalmente a cena. Comovente. E ao seu lado, Rômulo Rodrigues dá conta do recado, só precisando melhorar um pouco algumas entonações das palavras e acreditar mais em si mesmo. Algumas vezes seu personagem escapa das suas mãos, mas ele consegue domar a fera.

O cenário e a luz estão num casamento perfeito. Adorei as lâmpadas incandescentes iluminando os atores. Mas cuidado com o excesso de jornal no piso. É gratuito? É pra incomodar? Eles sao pobres sim, mas sao limpinhos.... logo, muito jornal acaba atrapalhando até aos atores. Gosto da disposição do cenário, dos móveis de época, das "paredes" que criam uma saida estratégica. Muito bem pensado. Mas o figurino realemnte é um achado. As cores, as escolhas das roupas, a superposição de peças dizendo que são roupas doadas, e ao mesmo tempo trabalhadas" para aqueles personagens, o escudo do Corintias, a camisa azul q mais parece um uniforme, ótimo. Muito bem construído.

A direção da encenação as vezes cria uns movimentos que nao tinham necessidade, como a gafieira rapidamente dançada pelos dois atores, mas quem sou eu pra achar alguma coisa?? Só acho que nao precisava ter ação nesse momento, já q as palavras dizem tudo. Gosto do "mini flash back" de quando a mulher diz ao marido q está gravida e ele faz um comentário. A vida dos dois passa em revista, aos olhos da mulher, em segundos. Gosto disso. Gosto também das cadeiras colocadas em lugares diferentes do "olho no olho". Mas, se estivessem os atores realmente se olhando nos olhos, o rendimento deles seria muito maior. Gosto da ousadia. E gosto da fuga do lugar comum.

E como sempre digo, quando há verdade no trabalho, tanto dos atores, quanto de toda a ficha técnica, a gente ve logo. Sabemos que ali existe uma verdade, uma busca por acertar, uma vontade de fazer bem feito, uma dedicação. E a recompensa é ver este ótimo trabalho de equipe que eu recomendo a todos que assistam. Uma peça extremamente atual, feita com competência, segurança e respeito, nao só com o publico, mas com o texto e com o autor que se está propondo a encenar.

Aplausos de pé.
Até já!

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