domingo, 5 de julho de 2009

ZOOLÓGICO DE VIDRO

Está em cartaz no Teatro Maison de France o excelente espetáculo Zoológico de Vidro, de Tennessee Williamns. E desde já digo: quem gosta de teatro nao pode perder esta peça.

Faz tempo a peça foi encenada por aqui como A Margem da Vida, e conta a historia de uma familia que vive à sombra de um pai-marido que fuigiu e largou mulher e filhos pra trás, numa decadencia sem fim. E o filho tem q sustentar toda uma casa com um misero salário e ainda por cima ser o "homem da casa" no sentido emocional da palavra.

Atualmente costumo fazer comentários pessoais meus que acabam se ligando ao espetáculo que estou comentando. Seja uma historinha minha vivida ou sabida de um amigo. E Zoológico de Vidro a gente pode ver ainda hoje em qualquer favela do RIo de Janeiro, ou até mesmo numa regiao de baixa renda no Nordeste, onde o pai-marido larga a familia para ir à luta em busca do sustento proprio e da esperança de dar uma vida melhor aos filhos-esposa largados para trás. No caso do Zoológico, o marido-pai, se cansa daquela vidinha mais ou menos e vai a luta da sua propria vida e abandona o lar.

Sobre a peça, há muito que elogiar. Principalmente os atores. Já vi Kiko Mascarelhas diversas vezes atuando, seja em teatro ou tv, mas dessa vez acredito q seja seu melhor trabalho. Uma aula de interpretação onde certamente merece uma indicação a um premio de teatro. Cassia Kiss sempre maravilhosa, tem nesta peça uma construção de personagem muito similar à sua brilhante Ilka Tibiriçá (delicioso personagem de Fera Ferida). Naquela novela, Cassia Kiss criou um personagem completo: gestos, fala, andar, pensamento, figurino. Agora, em Zoológico de Vidro, vemos esta nova criação completa de seu personagem. Uma interpretação irrepreensivel. Ainda no elenco Karen Coelho apresente sua personagem Laura com uma delicadeza irrepreensivel. Gosto muito da forma como ela manca e como se faz passar por nervosa e ansiosa quando tem que encarar o amigo do irmão. E por fim, mas nao menos importante, Erom Cordeiro, representando Jim, o amigo que vem para o jantar. Uma atuação correta e caprichada.

Claro q tudo isso tem a mão de ferro e generosa de Ulisses Cruz. Também considero uma indicação a um premio de teatro. Um trabalho de primeirissima qualidade, com respeito ao texto, aos atores e principalmente ao autor. Detalhista e caprichado, o espetáculo é uma costura bem feita de som, luz, imagem, cenário, figurino e interpetações.

Sobre o cenário, é bem bonito mesmo, super bem contruido e pomposo. Apenas acho a foto do pai um tanto grande demais, com uma importancia muito grande no fundo do palco. E nao fica claro se eles moram em um porão, ou apartamento subsolo ou térreo. Mas isso tudo é bobagem minha. Sao apenas observações.

A luz é muito bonita, nos dando delicadas informações sobre lua, noite, dia, medo, esperança... um elemento realmente importante na construção da peça.

O figurino da Beth Filipek (Prêmio Shell) é também um personagem à parte. Muito bem confeccionado e lindo de se ver, principalmente no vestido de baile que é guardado num baú e usado naquela ocasiao do jantar. Vamos perfeitamente que é uma roupa gasta pelo tempo e que teve seu áureo tempo de uso num passado longínquo. Lindo vestido.

Mas o que mais me impressionou nesta peça, e foi a primeira vez que eu vi numa peça de teatro e numa sala de teatro no Rio de Janeiro, um som surround, tipo cinema, em que o cachorro late atrás das nossas cabeças, a gaveta bate do lado direito, o zoológico de vidro tilinta do lado esquerdo. Gostei muito dessa novidade e com certeza contribuiu muito para todo o entendimento da peça e para a maravilha de espetáculo apresentado.

São realmente elogios sinceros. Quem gosta de teatro tem que ver a peça. E quem não tem o habito de ir a teatro, ou só vai ver peças do gênero comédia, precisa ver este espetáculo de primeirissima qualidade pra entender que teatro também é a maior diversão e pode se tornar uma paixão nacional.

Parabéns a todos da produção.

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