terça-feira, 19 de janeiro de 2010

SOPROS DE VIDA

Coloque-se na seguinte posição: você é casada há 25 anos e desconfia que ele tem uma amante. A desconfiança se concretiza, pois, de tando procurar, acaba achando, e passa a relevar a amante, visto que em casa, seu marido é um bom pai, bota o pão de cada dia na mesa e vc... bem, vai-se vivendo. O tesão já nao é mais o mesmo, e faz tempo ele nao "te procura". E quando faz, vc se assusta, mas gosta. Aí acontece o temido. Ele te larga pra ficar com a outra. Vc enlouquece de vez. Passado o tempo, ele também larga a outra e fica a vontade de ir conhecê-la, saber o que é que ela tem que você nao tem.

Passam-se alguns anos e vc resolve ir a casa dela saber "de coisas". Vc mente, dizendo que vai escrever esta história "para exorcisar o assunto" apenas para que ela conte, com riqueza de detalhes, sórdidos ou não, a história deles dois. Desde o primeiro "oi" até o último "tchau". Você se anuncia com um dia de antecedência, chega meio que de supetão e pronto, frente a frente, as duas resolvem se perguntar, se ouvir e, quem sabe lavarem uma boa roupa suja.

Esta é a idéia da peça "Sopros de vida". Confesso que fiquei esperando pelo menos um barraco entre as duas. Nao queria tapa na cara, mas queria frases mais fortes, acusações mais plausíveis, revelações surpreendentes. Não teve nada. Foi uma conversa cordial, poucas acusações, pra nao dizer blasé e elegante. Tá certo que as duas "madames" são elegantes, mas "esse homem foi meu, eu vi primeiro, ele te largou por minha causa", são frases ditas em todas as camadas sociais mundiais! Nada. Nada. É apenas um tete-à-tete para colocar pingos nos "is" e... cai o pano.

A peça tem vários méritos. Em primeirissimo lugar Nathália Timberg e Rosamaria Murtinho, que seguram a atenção da platéia e falam com verdade aquele texto que não nos comove nem empolga, mas elas estão alí, defendendo com unhas e dentes suas personagens. Elas são o espetáculo. Uma aula de interpretações.

Como dirigente, Naum Alves de Souza, marca as atrizes com belas fotografias. Da platéia, se tirarmos diversas fotos do espetáculo, todas ficarão prontas para serem adcionadas a um belo livro de fotos. Excelente mesmo as fotografias da peça. Marcação dinâmica para um assunto sem emoção.

O cenário (Celina Richers) é uma sala de uma casa numa ilha da Inglaterra. É bem decorado sim, é bem cuidado, tem carinho, mas não sei se esta casa seria decorada daquela maneira, ainda mais por se tratar de uma mulher que estuda a arte africana. Ou pelo menos foi isso que eu entendi. Talvez as janelas de aluminio não sejam as "originais de fábrica" da construção. E faltou o rodapé em todo cenário. Mas isso é uma bobagem, quem vai se preocupar com o rodapé? Eu, claro. Se a história prendesse com força o espectador, ele certamente não ia se preoucupar com o rodapé.

O figurino da Beth Filipecki é sempre elegante e confortável como deve ser para aquelas mulheres que moram no frio e estão em uma casa à beira do mar. Bonitos e leves.

E é a luz da peça (Wilson Reiz) que tem um brilho especial. Da janela vemos o dia e a noite passarem diante dos nossos olhos e as luzes da casa não ofuscam as personagens e ainda deixam tudo muito bem iluminado. Gostei muito do carinho do iluminador em colocar bambolinas para esconder os refletores em cima do palco, nao ofuscando a vista dos espectadores e iluminando muito bem as atrizes. Notei que a luz faz uma sombra nas atrizes e simula que a luz venha da janela. Gostei deste carinho, deste detalhe.

Um espetáculo que vale a pena ser visto pelo que comentei acima, mas fiquei com a sensação de que uma das mulheres perdeu tempo em visitar a outra. São de fato sopros de vida, mas eu queria tempestadas de vidas! Se era para ir lá e as duas falarem como conheceram o mesmo homem, podiam ter feito isto por email. Seria mais barato! Ok, entendo que a curiosidade feminina seria a responsável pelo encontro, mas mesmo assim, faltou ao texto um climax, um suspense, um assunto, uma "qualquer coisa" muito forte que justificasse aquela visita.

O encontro de Nathália e Rosamaria no palco é sempre imperdível!

Abraços

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