domingo, 11 de julho de 2010

TANGO, BOLERO E CHACHACHA

A minha paixão pelo teatro começou por conta de "O Mistério de Irma Vap". Passado um tempo, a paixão voltou forte quando vi "Os Monólogos da Vagina". Depois dessas duas peças, num dia de domingo, início dos anos 2000, fui assistir aquela comédia que todos falavam maravilhas: "Tango, Bolero e ChaChaCha". O teatro era o Ginástico e só tinha lugar no balcão. Lá fui. Ao final da peça, a paixão, definitivamente estava instalada. Essas três peças são as responsáveis por definir que o teatro é e será eterno na minha vida.

E não é que a peça está de volta? Pois sim, lá no Teatro Clara Nunes. Do elenco da primeira versão só o Edwin Luisi está no palco. Mas se não fosse com ele, não teria a menor graça. Edwin ainda é Lana Lee com toda graciosidade, força, garra e trejeitos de transsexual. Devido a esse nosso mundo agitado, Edwin precisa estar acima do normal, quase uma caricatura de si mesmo. E ele chega lá. É um grande ator. Sabe bem que estar "uma oitava acima" faz parte do que a platéia de hoje em dia, menos exigente, porém mais pobre de cultura, precisa para se divertir.

Maria Clara Gueiros, divertidissima, sabe aproveitar cada palavra do texto para tirar qualquer piada. E as pessoas vão lá para vê-la falar seus bordões conhecidos do programa de humor aos sábados. E se não tiver bordão, a platéia os grita até ele falar! Marcia Cabrita é hilária, totalmente à vontade num papel que aprendeu muito bem no "Sai de Baixo". É recebida pelo publico com gargalhadas. Carlos Bonow defende-se muito bem, com ótimo sotaque italiano e dando o suporte que Lana Lee, quer dizer, Edwin, precisa para brilhar. Miguel Romulo está crescendo como ator. É um grande garoto, terá carreira longa, só não precisa mostrar a bunda! Jorge Fernando já faz isso e o teatro brasileiro não comporta duas bundas concorrentes!!! E isso é uma piada, não é uma critica!! Pode mostrar a poupança a vontade que dá ibope.

O cenário do Marcelo Marques fica prejudicado pela falta de espaço do Teatro Clara Nunes. A parte da sala da casa da familia está muito bem aproveitada, mas quando muda o ambiente, ao fim da peça, os recursos cênicos das cortinas e candelabros, embora belissimos, conseguem dar o ar de casa de shows, mas o resultado é menos satisfatório. E sendo ele mesmo o figurinista, as roupas estão bem confeccionadas, exageradamente lindas para Lana Lee e com algumas "licenças poéticas" como o cachecol no amante italiano que no verão carioca torna-se desnecessário e um ou outro vestido de noite para a personagem de Maria Clara que fico pensando aonde ela iria vestida assim, se num jantar no Golden Room do Copacabana Palace ou uma recepção para um embaixador estrangeiro. O glamour do Rio ja acabou faz tempo, portanto aquela roupas hoje em dia em nossa cidade só mesmo no teatro!

A direção do grande Paulo Afonso de Lima é sempre competente. Aproveita todo o material que lhe é apresentado para transformar tudo em comédia. Usa e abusa de marcas rígidas, cômicas e necessárias. Percebe-se o carinho que ele tem por esta peça, as contribuições para atualizar o texto e a vontade de que tudo dê certo. Claro que também fica prejudicado pelas limitações que o espaço cênico do palco do Clara Nunes impõe. Tanto é que antes do fim da peça tem que utilizar a cortina de boca de cena para trocar o cenário e com isso cria um numero de mágica para divertir a platéia, mas... Fazer o que? As limitações dos teatros são os calos nos sapatos das produções hoje em dia no Rio. Sugiro, que dê uma atenção ao número final da peça, pois algumas vezes não entedemos o que está sendo cantado. E aí, o "grand finale" que todos esperam perde um pouquinho a força.

Deixei por ultimo o texto de Eloy Araujo. Uma das minhas peças de teatro favoritas, como disse no primeiro parágrafo. Gosto desse vaudeville, acho a peça inteligente, bem construida, cujas confusões surgem quando se ouve conversa atrás da porta, ou quando se pensa que a outra parte já entendeu o que está sendo dito, quando o dito é meio-dito. Muitas pessoas hoje em dia não entenderão que dizer "entendido" é se dizer gay. A palavra perdeu força com o tempo, mas a peça nunca foi tão atual, e fácil de ser compreendida, como agora é. O texto envelheceu, mas como canta Danilo Caymmi, "...vinho guardado, é bem melhor, tem mais sabor".

"Tango, Bolero e ChaChaCha" é o que há de melhor no gênero comédia brasileira. Uma referência. Ainda temos o prazer de poder reviver um dos grandes momentos de Edwin Luisi no teatro. Abusadamente digo que esta peça é uma das melhores comédias de todos os tempos. Imperdivel.

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