quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A GAROTA DO ADEUS


Dizer “adeus” não é nada agradável. Sempre me lembra aeroportos. Quando meu melhor amigo foi-se para Portugal passar uma longa temporada de mestrado, no aeroporto éramos 4 amigos. Três choravam, menos eu. Na hora do adeus, ele, ao meu ouvido ordenou “Fiquem todos juntos”. Pedi que ao entrar para a sala de embarque não olhasse para trás, recordasse de nós 4 juntos e felizes. Além do que, não saberia conter as lágrimas de saudade prévia. Ela não me obedeceu e nos olhou. Um ultimo adeus apenas com o olhar. Éramos, então, quatro chorões num Galeão ainda sem apagões e sem goteiras...

"A Garota do Adeus", de Neil Simon conta a história de uma moça - que tem uma filha - recém abandonada pelo namorado - que não é o pai da criança. Pra piorar, o safado subloca o apartamento para um colega ator. Daí em diante, brigas, acordos, caras feias, luta por espaço, briga pelo poder, admiração mútua, ajuda em momentos difíceis, sorrisos, troca de olhares e a boa influencia da menina que vê no inquilino um novo amigo, causam o que todos sabemos desde o inicio da peça: o surgimento do amor. E não é que o cara resolve também largar tudo e cair na vida?

O espetáculo em cartaz no Teatro Fashion Mall tem adaptação e tradução bem feitas, caprichadas e atuais de Edson Fieschi. Um belo trabalho de pesquisa enriquecido com as gírias em moda na atualidade, que aproximam o publico carioca do texto do dramaturgo americano.

A direção de Elias Andreato segue um pouco a linha das séries americanas da Fox, Sony ou Warner. Deduzimos o que vai acontecer em seguida. Mesmo com tantos degraus no cenário, não há esbarrões, e a história flu com naturalidade. O maior trabalho foi, sem duvida, nos mostrar uma Maria Clara Gueiros contida no papel da mocinha, sem apelar para seus bordões de programas de humor na TV. Soma-se a isto ensinar e conduzir a menina Luisa, estreando no Rio para uma plateia de convidados. Mérito também de Elias Andreato é dar ao espetáculo uma leveza, para que a plateia, que teve um dia exaustivo de trabalho, saia feliz e vá para casa satisfeita com o espetáculo.

No palco, Edson Fieschi está bem confortável - por ser muito íntimo do texto - no papel principal do inquilino-futuro-namorado. Além de saber exatamente o que quer dizer, Edson nos mostra um tom de humor inteligente, com pausas no momento certo antes de soltar a bomba da piada, e espera, e tem, o retorno de suas parceiras de cena. Gosto de sua atuação. Maria Clara Gueiros, como disse acima, está muito bem como a garota que volta e meia é obrigada a dar adeus a algum sonho: ora namorado, ora apartamento, ora emprego. Maria Clara tem presença marcante no palco e só não rouba as cenas por conta de sua filha, interpretada por Luisa Gonzáles, que no dia da estreia do espetáculo - e também sua estreia na peça -  parecia tão à vontade como se viesse de uma tournée nacional. Luisa tem o carisma necessário para interpretar menina que torce pela mãe, sem deixar de ter suas vontades infantis. Ótima em cena. Com personagens complementares, Clara Garcia e Sérgio Maciel tem atuação discreta.

Na parte técnica, o cenário do mestre José Dias abusa dos degraus - o que facilita a visão ampla do espetáculo - das ausências de paredes, janelas e portas dividindo ambientes. Móveis apenas necessários, mas de acordo com a classe econômica dos personagens. Não gosto muito quando se tem que fechar a cortina e a cena se desenvolve na boca de cena, num outro ambiente, mas a cenografia é bem resolvida com um tecido transparente que nos mantém de olho naquela casa, sem esquecer que a trama principal está ali atrás e o que acontece na frente é apenas um “à parte" na história. Figurino de Fabio Namatame é bonito e a luz de Paulo Cesar Medeiros é simpática, dando o tom da comédia e iluminando apenas as cenas nos aposentos, deixando os demais em meia luz. A música de Marcelo Alonso Neves é muito bonita, a ponto de ficar na cabeça do publico quando sai do teatro.

“A Garota do Adeus” é daqueles filmes que vemos à tarde, em dia de chuva, no período de férias, onde somos só sorrisos e algumas risadas altas. Estilo “O Amor não Tira Férias”, ou “Meu Primeiro Amor”. Um simples e simpático espetáculo, de bom gosto e recheado de talentos, para após um dia cansativo de trabalho.

Um comentário:

Denison disse...

Sensacional a crítica. E, ainda, me fez lembrar de um momento especial na minha vida qdo parti para o velho continente!