domingo, 6 de janeiro de 2013

ROCK IN RIO - O MUSICAL


O único dia do único Rock In Rio que participei foi na abertura da terceira edição. Como trabalhava ali perto, no Projac, deixei o carro no estacionamento da empresa. Neste dia, a Orquestra Sinfônica abriu os trabalhos, junto com a esquadrilha da fumaça. Depois, Milton Nascimento, Gilberto Gil, James Taylor, Daniela Mercury e Sting encantaram o publico. Saí extasiado. Inesquecível. Nunca mais participei do festival. Coincidência apenas. Acompanhei pelo MultiShow o ultimo, lá no Parque dos Atletas, onde só fui conhecer quando Madonna cantou por lá. E a experiência não foi boa. Como o próximo festival também será naquele lugar, vai ser difícil a família Medina me ver por lá novamente.

Estreou na ultima quinta feira uma belíssima homenagem ao Rock In Rio na Cidade das Artes, Barra da Tijuca. A Grande Sala é imensa, os lugares são confortáveis, ótima acustica e o ar condicionado funcionou bem. Alguns probleminhas na chegada e partida, infra-estrutura rudimentar do lugar, mas que tenho certeza que logo serão corrigidas. Fora isso, é um mega complexo de boas intenções. Oremos.

No espetáculo “Rock In Rio - o Musical”, o texto é de Rodrigo Nogueira. Esse garoto é bom! Já vi uns 4 espetáculos escritos por ele e sempre me surpreendo com sua capacidade e sua qualidade nos diálogos. Palavras raramente usadas são muito bem empregadas. Rodrigo escreve bem, tem carpintaria teatral, faz um excelente jogo de palavras e de cenas com os 4 personagens principais, atualiza as piadas, sabe onde quer chegar. Os personagens criados por ele para contar esta história estão bem caracterizados, sem exageros.

A história: um rapaz que se comunica através da musica (não fala), e uma menina que detesta musica (e fala pelos cotovelos), se conhecem e se apaixonam. Ambos sofreram traumas de infância relacionados às suas famílias. Ao longo do espetáculo, referências sociais a um Brasil do passado, a insana luta do criador do festival para manter vivo o seu sonho, a humilhação do empregado feita pelo patrão opressor, a discussão sobre uma doença contagiosa. Gostei desta salada. O texto é bastante inteligente abrindo espaço para que as palavras sejam substituídas por música e deduções.

Na parte técnica, Nello Marrese e Natália Lana dão um show no cenário! Bonito, possível, funcional, elegante, de bom gosto. Funcionando muito bem para que o elenco possa ter espaço e que as cenas intimistas sejam compartilhadas com a plateia. Destaque para as casas dos protagonistas e os camarins em containers. No figurino Thanara Shönardie acerta em cheio na escolha dos tecidos e cores para os personagens. A luz de Paulo Cesar Medeiros é bonita e de bom gosto. Destaque mais que especial para a coreografia moderna, ousada e linda de Alex Neoral. Diferente do lugar comum, Alex foi criativo e inovador. Excelente seu trabalho. Delia Ficher assina a direção musical e os ótimos arranjos e tem à sua disposição excelentes músicos formando a banda do musical.

Encabeçando o elenco Lucinha Lins é a mãe do rapaz que se comunica pela música. Uma das vozes mais belas de todos os tempos, Lucinha encanta, dança e representa como ninguém. Suas interpretações musicais são o ponto alto do espetáculo.  Yasmin Gomlevsky, interpreta  a “Revoltadinha da Estrala”, canta muito bem, atropela um pouco as palavras, mas acredito que seja pela ansiedade de sua personagem, pois sua competência vocal é inegável. Guilherme Leme, como o pai da mocinha, tem total segurança no papel, sabendo explorar a qualidade daquele pai largado, ausente e que, mesmo frágil e com medo de enfrentar a vida, produz um festival.  Hugo Bonemer é Alef, o mocinho, daqueles que toda menina quer para si, quer cuidar, quer proteger e amparar. Hugo atua e canta muito bem, sua voz é ótima e seu Alef é um grande personagem.

Destacando-se entre os personagens, Ícaro Silva vive Marvin. Genial! Leve, solto, confiante e seguro em cena, Ícaro, com sua experiência em Malhação e DJ de festas badaladas, segura a plateia nas mãos e com carinho. É a grande (e boa) surpresa do espetáculo! Caique Luna se supera como Geraldo, o gay afetado que controla todo o festival. Emílio Dantas interpreta Roger, personagem difícil, que tem a missão de informar aos jovens que a prevenção é a arma contra as doenças infecciosas, seja por droga, seja por sexo. Papel importantíssimo no espetáculo, pois estamos vendo por aí, ainda hoje, o grande numero de jovens se contaminando com doenças sem cura. Kakau Gomes e Luiz Pacini dominam as cenas da loja de disco, numa simbiose total em cena. Marcelo Varzea intrepreta um professor de faculdade que tem a árdua tarefa de ser o interlocutor entre os revoltados alunos e a reitoria linha dura.

É grande o numero de atores. Porém todos estão muito bem em cena: Bruno Sigrist, Liv Ziese, Romulo Neto, Karen Junqueira, Juliane Bodini, Stephanie Serrat, Daniele Falcone, Sheila Matos, Alessandro Brandão, Cris Penna, Bruno Fraga e Celo Carvalho. Todos cantando e dançando com competência!

Acho uma genialidade formar uma equipe que vibra na mesma sintonia, que esteja afim de buscar o melhor para o espetáculo. E mais uma vez João Fonseca é o maestro deste espetáculo. Assim como na minha única presença no dia de abertura do 3º Rock In Rio com a OSB, vi ali na Cidade das Artes (que seria a casa da OSB) um maestro comandando uma orquestra formada por atores, técnicos, contra-regras, músicos, cenógrafos, figurinista, iluminador e coreografia. Tudo funciona perfeitamente. João sabe dar velocidade quando precisa e puxar o freio do espetáculo na hora necessária. As marcas são sempre limpas. Claro que com um mega palco as vezes é impossível não correr para sair de cena, mas são ossos do oficio. Não é necessário se rasgar elogios a João Fonseca (amigo querido que não canso de elogiar). Vá ver a peça e tenha a certeza de que seu trabalho é para ser aplaudido e premiado. É um dos seus melhores trabalhos como diretor.


“Rock in Rio - o Musical” é sem dúvida uma declaração de amor à musica e ao teatro. Rodrigo Nogueira escreve no programa da peça um dos textos mais emocionantes que já li em programas de teatro. Concordo plenamente com ele. Assim como o festival tem por objetivo transformar o mundo - “Rock in Rio - Por Um Mundo Melhor” - esta peça mostra que, sim, a música é capaz de mudar homens, atitudes e pensamentos.


Havia dito recentemente que “Priscilla, a Rainha do Deserto” era o espetáculo que mais havia me tocado desde “O Mistério de Irma Vap”. Pois “Rock In Rio - o Musical” acaba de entrar para a minha história pessoal dos melhores espetáculos musicais que já assisti em teatro. Um espetáculo brasileiro, sobre amor, música, explorando talentos nacionais de qualidade, mostrando que o Rio e o Brasil sabem fazer espetáculos inéditos voltados para a nossa realidade. Vida longa ao projeto. Um belo espetáculo que merece ficar em cartaz até setembro de  2013, quando teremos uma nova edição do festival Rock In Rio. Aplausos de pé de 15 minutos sem parar!

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