quinta-feira, 6 de junho de 2013

SIMPLESMENTE EU, Clarice Lispector



Tenho pouca intimidade com Clarice Lispector. Assisti algumas entrevistas, li contos, mas sempre gosto muito do estilo e da forma como Clarice consegue, brilhantemente, usar palavras incomuns para definir objetos, sentimentos, situações. Um dos meus contos favoritos é o “Feliz Aniversário”, que está na coletânea “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século XX” (Ed.Objetiva) que ganhei de Natal há 5 anos reli algumas vezes.

Está de volta ao Rio, o exemplar espetáculo “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”, no Teatro Fashion Mall, em São Conrado. Aliás, duas salas muito confortáveis, onde quem ganha, sempre, é a platéia. O espetáculo reúne entrevistas de Clarice, com belos exemplos de sua literatura. Como diz no programa, “o espetáculo mostra a trajetória desta mulher (Clarice) em direção ao entendimento do amor.” Diz mais ainda: “...seus personagens dialogando sobre vida e morte, criação, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, entrega, inspiração, aceitação e entendimento”. Ora, o que mais posso acrescentar? Fiquei muito tocado ainda no final da apresentação quando Beth faz uma declaração de amor à vida, à solidariedade e ao teatro.

Tudo já foi escrito e falado sobre este espetáculo-exemplo. Elogiar mais uma vez seria “chover no molhado”. Mas não posso deixar de fazer comentários favoráveis a este espetáculo que, para mim, foi uma aula de elegância.

O cenário é criativo e clean ao mesmo tempo. Mérito de Ronald Teixeira e Leobruno Gama. Clarice e suas personagens entram e saem de cena através da imensa cortina de fitas de cetim pérola. Uma poltrona e um recamier claros, completam o espaço. Ótima sacada também é a projeção nas fitas, criação de Fabian e Glaucio Ayala editou. O figurino de Beth Filipecki é excelente, cores fortes como a personagem. Vermelho contrastando com o cenário branco. A luz de Maneco Quinderé é sempre uma beleza.

Beth Goulart é Clarice Lispector. Isso não é uma composição. É uma incorporação! Mão, gestos, tiques nervosos, língua presa (aplausos para Rose Gonçalves), pausas, ansiedade contida. Beth é. Todos os predicados favoráveis e belos podem ser escritos aqui. Nenhum chegará ao ponto de definir o talento e a beleza desta atriz, que é uma das minhas favoritas faz tempo. Beth “prega botão, chuleia e faz bainha” nesta costura deste espetáculo. Adaptou, interpreta e dirige. A supervisão de Amir Haddad auxilia, com “o olhar de fora do palco”, o ritmo da peça.

Uma produção impecável da Self Produções Artísticas com a mão certeira de Pierina Morais cuidando de tudo com carinho e dedicação.


Assim como a Coca Cola não para de anunciar na TV, mesmo sendo a marca mais famosa do mundo, não elogiar e não comentar sobre “Simplesmente Eu, Clarice Lispector” seria estar de fora da consagração que esta peça, há cinco anos em cartaz, merece. Todo meu carinho à Beth Goulart (e à sua família que gosto muito), minha admiração pela competência profissional de todos os envolvidos. 

Se você ama teatro, se está disposto a ser envolvido por uma qualidade, beleza, competência e sabedoria, corra já para lá enquanto a peça estiver em cartaz e não perca esta oportunidade. Um exemplo para todos nós.

Nenhum comentário: