quinta-feira, 14 de maio de 2015

HAMLET OU MORTE


Estudei no Instituto Guanabara e nossa professora de inglês, Riva, loura, linda, americana naturalizada brazuca, nos encomendou uma apresentação teatral em cima de uma musica. Escolhi “The Logical Song”, do ótimo Spertramp. Escrevi o roteiro, escalei 2 alunas-atrizes-cobaias (que toparam brincar com a música e divertir a plateia) e dirigi. Na época nem sabia que estava fazendo isso tudo... Compramos asas de pássaros, criamos coreografia, ensaiamos. No dia da apresentação, a plateia rolava de rir. Nós, felizes como pinto no lixo, queríamos mais. E improvisávamos, e combinávamos coisas durante a música. Nem a gente se aguentava. Aplausos. Nota dez no trabalho e passamos direto na matéria. Inesquecivel.

Está em cartaz no Teatro Poerinha o espetáculo “Hamlet ou Morte – uma trágica comédia”. A peça pode ser dividida em duas partes. A primeira, quando quatro “meliantes” são conduzidos à cadeia por crimes cometidos. Nesta parte, de dois em dois (pares e cumplices) têm a primeira chance de serem absolvidos perante Deus. Um pastor é convidado para ouvir a história de cada par, justificando os motivos pela prisão. A segunda parte, sem perder o link com a primeira parte, os acusados têm a chance de serem absolvidos pela Rainha. Sua chance é representar Hamlet e agradar. Sendo a atuação convincente, a absolvição é imediata.

Adaptação e direção assinadas por Adriana Maia. Muito dinâmico, moderno e divertido, o texto, muito bom, já ajuda e facilita a vida da direção. Adriana além de saber exatamente o que quer com este espetáculo (mostrar os talentos jovens e seu brilhante trabalho de pesquisa) consegue obter resultados muito positivos. Sua direção é competente, firme e certeira. De bom gosto, tão ágil quanto o texto. Palmas para a cena do “cinema mudo” e para toda a representação de Hamlet. Aplausos de pé!

A cenografia e figurinos de Adriano de Ferreira. Ótimos! Adriano consegue entender e colaborar com tudo que a direção precisa para fazer um ótimo espetáculo. Seu palco sobre o palco serve aos propósitos da peça. Gosto do andaime que vira varal, cortina de palco e torre. O figurino é bem casado com a cenografia e permite aos atores se movimentar com facilidade, além de compor cada personagem com exatidão.

A luz, de Walace Furtado, é um acerto. Destaque para o casamento com a cenografia, na cena da cela da prisão. As grades são feitas de luz! Criativo e bem realizado. A trilha sonora, por vezes executada ao piano pelos atores, completa a excelência do espetáculo.

É muito importante quando todos estão envolvidos e entregues no jogo do espetáculo. Além do mérito da direção (e da equipe), os atores são quem leva ao publico tudo que foi pesquisado e ensaiado. O quinteto fantástico, os Trágicos, composto por Mathias Wunder, Diogo Fujimura, Yuri Ribeiro, Pedro Sarmento e Gabriel Canella, merece todo nosso aplauso pela garra, força de vontade, entrega e vaidade na medida certa. Afinal, estamos falando de atores, e a vaidade é necessária!!! Os cinco sabem se doar, com generosidade e parceria, ao colega, sabendo a hora do outro brilhar e a sua hora de envolver a plateia. Não há destaque entre eles. Todos estão ávidos por mostrarem seus trabalhos e sabe a hora de fazer. Sem pisar no colega de cena, sem estragar o texto pesquisado, sem maltratar a perfeita direção.


Me perguntaram esta semana se havia algum espetáculo de comédia, daquelas de passar mal de rir, em cartaz no Rio. Não sabia responder até assistir a Hamlet ou Morte. Pois aí está. Vá ao teatro, morra de rir, compartilhe do talento desta nova geração de atores que estão vindo com tudo para mostrar que o teatro está muito vivo! Aplausos de pé com cãibra nas bochechas de tanto rir!!

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