quarta-feira, 5 de julho de 2017

SUASSUNA - O AUTO DO REINO DO SOL



A primeira vez que assisti esta turma junta foi em Gonzagão, a Lenda. Na metade da peça eu já sabia que o grupo ia ter vida longa. O conjunto era algo que vibrava, um mix de atores, cantores, palhaços e músicos. Daquele espetáculo nasceu A Barca dos Corações Partidos. Na sequência veio a Ópera do Malandro. E, ano passado, o musical Auê. Sou suspeito para falar de Auê, pois foi um espetáculo que me pegou num momento bastante sensivel e virei fã incondicional do espetáculo.

No ano em que completa 90 anos, Ariano Suassuna recebe uma belíssima homenagem desta mesma Barca. A peça O Auto do Reino do Sol, em cartaz no Teatro Riachuelo – alias, uma beleza de teatro. Ainda não tinha ido e fiquei encantado – é a história de uma trupe de teatro, um casal de namorados em fuga, uma família que se odeia, jagunços, risos, lágrimas... ou seja: ingredientes preferidos de Suassuna.  O texto de Braulio Tavares bebe bonito na fonte de Ariano, se utiliza de nomes, cidades e situações criadas pelo dramaturgo, poeta, romancista e professor, que nos deixou em 2014. Frases emblemáticas de Ariano “Não sei, só sei que foi assim” estão nesta homenagem.

A direção de Luiz Carlos Vasconcelos é primorosa! Um trabalho de excelência, onde toda a competência vocal, circense e interpretativa dos atores é explorada. Luiz Carlos também bebe na fonte do sertão nordestino e imprime lindas cenas de fotográficas coreografias, ocupando todo o palco e usando das melhores ferramentas que dispõe: os integrantes da Barca dos Corações Partidos. Linda a cena em que os patriarcas das famílias rivais bradam ódio, juntos, no palco, porém em casas separadas. Belíssimo também é o grupo de retirantes, logo no inicio da peça, trazendo as mazelas do dia a dia da região.

A cenografia, de Sérgio Marimba, é composta de uma carroça de ferro extremamente bem cuidada e carregada de leves adereços – que serve tanto para o balcão da mocinha quanto para transportar a trupe do circo. O fundo do palco ganha a lona do circo feita com um pano branco que permite luzes de São João servirem de estrela. Impecável é o figurino de Kika Lopes e Heloisa Sockler. Bonitos e bem confeccionados. Renato Machado ilumina tudo com a qualidade e bom gosto de sempre.

A trilha sonora criada por Chico Cesar, Beto Lemos e Alfredo De Penho tem a cara da Barca, a competência do grupo, referências nordestinas, transforma história em música e são sempre bem executadas pelos atores.

Além da indiscutível qualidade do grupo, a Barca dos Corações Partidos, resultado da união de Alfredo del Penho, Rica Barros, Fabio Enriquez, Beto Lemos, Eduardo Rios, Adrén Alves, Renato Luciano, recebe os atores convidados Rebeca Jamir, Chris Mourão e Pedro Aune. Afinados, dedicados, integrados e inteiros, o grupo mostra que mantém a sua força inicial, firme no propósito de levar o mix de circo, show e teatro para o palco, onde quer que se apresentem.

Suassuna - O Auto do Reino do Sol é um trabalho da mais alta competência teatral. Um musical brasileiro, falando do nordeste, homenageando Suassuna e mantendo a Barca dos Corações Partidos no universo onde tem total domínio e a qualidade de todos os anteriores.

Vale muito a pena assistir a este trabalho e aplaudir, sempre de pé, a Andrea Alves pela idealização, a Sarau pela produção, a toda equipe envolvida e à Barca dos Corações Partidos pelo conjunto da obra!! Viva!

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