quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

BIBI - UMA VIDA EM MUSICAL


A primeira vez que a vi foi no musical “Bibi canta Amália”, texto de Tiago Torres da Silva, no Teatro João Caetano. Sei que perdi as grandes apresentações de Piaf e Gota D’Água, mas em Amália ela estava soberba. Talvez venha dali parte da minha paixão por Portugal. Depois a vi em “Bibi In Concert III”, onde apresentou um Rap musical escrito por Thereza Tinoco, e aplaudida de pé no saudoso Canecão. Tive o privilégio de abraçá-la no camarim depois de “Bibi canta Sinatra”, graças à minha sócia, Sônia de Paula, que fora assistente de Bibi. Também fui comemorar, na casa de Bibi, o aniversário de sua irmã, Lígia Ferreira, com quem escrevi uma peça de teatro. Me sinto privilegiado pelos momentos em que estive ao seu lado. À ela, perguntei: “Bibi, qual foi a pergunta que nunca te fizeram?” Ela parou, me olhou e disse: “Bela pergunta. Esta foi inédita!”

Cláudia Negri e Thereza Tinoco são duas guerreiras, generosas e fiéis. Foi Claudia quem propôs a Thereza produzirem juntas um musical em homenagem à Bibi Ferreira, amiga das duas. E assim surgiu “Bibi, uma vida em musical”, em cartaz no Teatro Oi Casagrande, Rio de Janeiro.

O texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães faz um ótimo recorte na vida da artista, mostra ao público o que de melhor tem em Abigail Izquierdo Ferreira, nome de batismo, e na mais completa artista brasileira. Temos um espetáculo onde o circo é o pano de fundo, com o mestre de cerimônias narrando as principais passagens, temos diálogos realistas e situações criadas a partir dos relatos familiares. Um texto que flui naturalmente, dando a real importância que Bibi merece ser apresentada no palco.

O cenário de Natália Lana é lindo. Marcante com a presença do circo, luzes de ribalta, céu estrelado, caixas de figurino, uma penteadeira de camarim que vira tela de cinema, tudo ali é bem feito e funciona. O figurino de Ney Madeira e Dani Vidal são coloridos para o circo, básicos para os números mais dramáticos e reproduções fiéis das roupas que Bibi usou. A luz de Rogério Wiltgen é sempre bonita, bem pensada e ilumina com vida o espetáculo. Destaque também para a coreografia e direção de movimento de Sueli Guerra.

A direção musical de Tony Lucchesi é elegante e típica dos melhores musicais internacionais. Seus músicos (Alexandre Queiróz, Miguel Schönmann, Léo Bandeira e David Nascimento) estão afinadíssimos e as versões de musicas conhecidas e as inéditas, criadas por Thereza Tinoco (lindas, como sempre!) estão muito bem inseridas neste espetáculo.

Encabeçando o elenco, Amanda Acosta é Bibi. Entrega toda no gestual, forma de falar, composição, tudo utilizado com carinho e respeito, Amanda não dispensa nada. Cada fala, cada movimento das mãos, tudo é impecável. O segundo ato, que traz Bibi mais atual, é brilhante seu trabalho de corpo. Aplausos em cena aberta várias vezes. Ao seu lado, Chris Penna, interpretando Procópio Ferreira (pai de Bibi). Imensa e competente é a sua entrega ao personagem. Um trabalho difícil, cujo resultado é nada menos que brilhante. Leo Bahia é o mestre de cerimônias do circo, narrador da história, trazendo seu humor seguro, sua voz afinada e sua competência de sempre. Ao seu lado, Rosana Penna interpreta a avó de Bibi, um papel à altura de seu talento, mantém o ritmo e a composição durante todo o espetáculo. Temos ainda como destaque Flavia Santana (a cigana), Simone Centurione (Aída, a mãe), Luísa Vianna (Neide, a fiel escudeira), Guilherme Logullo (Paulo Pontes), Analu Pimenta (Vanda, a amiga) e Julie Duarte (Lígia Ferreira, a irmã). Completando o elenco, João Telles, André Luiz Odin, Moira Osório, Bel Lima, Carlos Darzé, Leonam Moraes, Fernanda Gabriela, Caio Giovani e Leandro Melo. Uma turma unida e competente.

Comandando o espetáculo, dirigindo, Tadeu Aguiar. Sem medo de errar, digo que esta é a sua direção mais delicada e caprichada. Tadeu, com este espetáculo, faz uma declaração de amor à Bibi Ferreira e, através de seu trabalho, todos nós temos ali a melhor homenagem que alguém poderia fazer para Bibi. Tadeu é generoso, inteligente, criativo e os detalhes de marcações e subtextos estão muito claros no palco. Destaque para a genial cena da família de mulheres ao redor da cama de Bibi discutindo sobre o texto do musical Piaf. Também merece aplausos toda a cena da doença de Paulo Pontes terminando na triunfal canção de A Gota D`água. Emocionante. Tadeu tem neste espetáculo seu melhor trabalho de diretor. Obrigado e parabéns!

Um espetáculo lindo, de bom gosto, reunindo ótimos profissionais do teatro carioca em homenagem à nossa mais completa artista: Bibi Ferreira. Que todos os artistas tenham Bibi como exemplo de dedicação e amor ao teatro, onde o público é que tem que ser agradado, onde o exercício da profissão se sobrepõe ao ser humano que o exerce, onde a mulher Abigail se deixa engoir pela artista Bibi em nome do seu amor ao teatro. “Bibi, uma vida em musical” além de ser um dos melhores espetáculos biográficos já produzidos, é, sem dúvida, e em todos os sentidos, incluindo da equipe, uma declaração de amor.

Aplausos de pé para os patrocinadores Bradesco Seguros, Bradesco, Ministério de Cultura e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro que acreditaram neste projeto e nos agraciaram com tamanha beleza. Aplausos para Cláudia Negri e Thereza Tinoco por mostrarem que a amizade, admiração e carinho pode ser transformado em espetáculo. Para este verão de 2018, “Bibi, uma vida em musical” é um espetáculo obrigatório. Viva Bibi!!